terça-feira, 2 de julho de 2013

BIOQUÍMICA DO ÁLCOOL

Ressaca: O dia depois do álcool. 

        Curiosamente, o nome formal da ressaca é veisalgia, que tem origem na palavra norueguesa para "mal-estar depois da orgia" (kveis) e na palavra Grega para "dor" (algia), um nome apropriado considerando-se os sintomas desconfortáveis que aparecem nos indivíduos após uma noite de bebedeira.
        Para quem acha que os efeitos ocasionados pela bebida passam depois de uma noite de sono, a ressaca vem para lembrá-los que alguns efeitos - e não dos melhores - se destacam devido a reações químicas ocorrentes entre o álcool e o organismo. Considerada o mal do dia seguinte, a ressaca traz diversas sensações, como mal estar, dor de cabeça, fadiga, náusea e até mesmo problemas de concentração e ansiedade. Logo, vale a pergunta: O que causa a ressaca e seus sintomas?
         Quando o álcool é consumido, ele entra na corrente sanguínea fazendo com que a hipófise - parte do cérebro, contida na caixa craniana - bloqueie a produção da vasopressina - também conhecida como hormônio antidiurético (ADH) ou argipressina, responsável pela conservação de água pelos rins, ou seja, evitando que a urina se torne muito diluída. Esse efeito entra em prática através das percepções relativas ao plasma sanguíneo por receptores osmóticos localizados no hipotálamo. Quando há um aumento na concentração do plasma - o que signifca que este contém pouca água - os osmorreguladores estimulam a produção de ADH. Tendo alcançado o sangue, o hormônio atua sobre os túbulos distais e sobre os túbulos coletores do néfron, tornando as células destes mais permeáveis á água. Através desse mecanismo, ocorre uma absorção maior do H2O e a urina, consequentemente, torna-se mais concentrada.    Quando a concentração do plasma é baixa - significando uma quantidade considerável de água no sangue, tornando-o mais diluído - há inibição da produção do ADH e, por conseguinte, uma menor absorção da água nos túbulos distais e coletores, possibilitando maior excreção de H2O, o que torna a urina mais diluída. O álcool aumenta a diurese, suprimindo a produção de ADH. O acetaldeído inibe o hormônio antidiurético, o que faz a pessoa urinar mais e, por isso, perder líquido. Daí vem a sensação de boca seca e a necessidade de beber água no dia seguinte.
 Pesquisas indicam que a ingestão de cerca de 250ml de bebida alcóolica ocasiona a expulsão de 800ml á 1L de água pelo corpo. Logo, a perda mostra-se bem maior que o ganho. Este ''efeito diurético'' tende a diminuir de acordo com a diminuição gradual do álcool na corrente sanguínea, porém os efeitos colaterais ajudam a criar a ressaca.
            A principal culpada pela ressaca é uma substância chamada acetaldeído: Produto de metabolismo do álcool, é mais tóxico que ele próprio e produzido quando o álcool no fígado é destruído por uma enzima chamada álcool desidrogenase. O acetaldeído é então atacado por uma substância chamada glutationa  - que contém elevada quantidade de cisteína, substância atraída pelo acetaldeído - e pela enzima aldeído-desidrogenase. Aldeído-desidrogenase e a glutationa formam juntos o acetato, composto não tóxico. Se a ingestão for pequena, o fígado consegue metabolizar normalmente o álcool, que transforma-se quimicamente em acetaldeído. No entanto, os estoques de glutationa no fígado esgotam-se á medida que uma maior quantidade de álcool é ingerida. A consequência é que o acetaldeído acumula-se no organismo, enquanto o fígado produz mais glutationa, deixando a toxina no organismo por períodos maiores de tempo.
Alguns dos sintomas mais comuns da ressaca, como a fadiga, irritação do estômago e uma sensação geral de mal estar, podem ser atribuídos também a algo chamado de reação à glutamina. Quando alguém está ingerindo a bebida, o álcool inibe a glutamina. Ao parar de beber, o organismo do indivíduo tenta recompensar o tempo perdido produzindo um nível de glutamina além do necessário.
         A glutamina - cuja importância também reside em ser precursora para a síntese de glutamato e do ácido g-aminobutílico (GABA), que são vistos como neurotransmissores excitadores e inibidores do cérebro, respectivamente - ao ter seus níveis elevados com o encerramento da ingestão alcoólica,  estimula o cérebro enquanto a pessoa tenta dormir, evitando que os níveis mais profundos e saudáveis do sono sejam atingidos. Logo, podemos citar a glutamina como uma das responsáveis pela ''noite mal dormida'' após uma noite de bebedeira. A enzima também é responsável pelos sintomas de tremores, agitação, aumento da pressão arterial e ansiedade que uma ressaca pode causar.

            O processo de metabolização do etanol envolve vias enzimáticas do fígado que também participam da geração de glicose, principalmente em períodos de jejum. Como essa enzimas estão ocupadas metabolizando o etanol, temos uma queda no nível de glicose para o cérebro e outras regiões do organismo. A partir desse processo, o indivíduo começa a sentir os sintomas de fraqueza e mal estar.
            Quanto á sensação de irritação no estômago, o vômito e ao mito de que o ato de vomitar pode diminuir os efeitos da ressaca? Elas podem ser explicadas juntamente pela irritação das células estomacais devido á secreção elevada de ácido clorídrico na cavidade estomacal como consequência da presença do álcool, que em parte é  metabolizado aqui. Ao provocar a secreção do HCL, o álcool faz com que os nervos enviem ao cérebro a mensagem de que o conteúdo do estômago está ferindo o corpo e precisa ser expelido através do vômito. Este mecanismo pode, de fato, diminuir os sintomas da ressaca a longo prazo, pois livra o estômago do álcool reduzindo, consequentemente, o número de toxinas com as quais o organismo tem de lidar. No entanto, a irritação do estômago também é responsável por outras sensações nada agradáveis, como a perda de apetite e a diarréia.
         Falando em toxinas, vale citar que diferentes tipos de bebidas alcóolicas podem resultar em diferentes sintomas da ressaca, e justamente devido a concentração de toxinas, que são subprodutos da fermentação.
                       

 Logo, quais as bebidas de maior concentração de toxinas? 
            Pode-se citar o vinho tinto e bebidas escuras como regra geral: Bourbon, uísque, tequila, brandy. O vinho branco e as bebidas claras como a vodka, rum e o gim possuem uma concentração menor de toxinas, logo causam ressacas menos graves. No entanto, vale ressaltar que tal informação apenas procede em níveis moderados de consumo, respeitando o peso do consumidor e sobretudo o seu tipo de metabolismo. Vale alertar também para os efeitos das misturas de bebidas. Combinações entre cerveja, vinho, destilado, etc; podem resultar em sintomas graves de ressaca. Além disto, a carbonatação da cerveja apressa a absorção do álcool. Consequentemente, beber cerveja depois de outra bebida não concede ao corpo o tempo necessário para processar as toxinas.


  
ANALGÉSICOS E A RESSACA:
            Muitas curas populares para a ressaca são propagadas entre as sociedades. Entre elas, pode-se citar o café, tomar um bom banho de água gelada, chá, consumir produtos de cheiro forte, etc. No entanto, observa-se também o crescente consumo de medicamentos que prometem livrar o consumidor da ressaca do dia seguinte ou, ao menos, atenuar os seus sintomas. Sendo assim, todo indivíduo consciente deve-se perguntar: ''Qual a procedência desses manipulados?''

            Algumas práticas como a combinação de cafeína e analgésicos contendo acetominofeno (conhecido comercialmente como o Paracetamol) podem momentaneamente auxiliar  no combate da dor de cabeça por combinarem um analgésico na fórmula. No entanto, vale ressaltar que a cafeína em si não possui nenhum efeito benéfico no tratamento da ressaca. Essa combinação deve ser utilizada moderadamente, tendo em vista que o acetominofeno em altas doses pode lesar o fígado. Outro alerta é não consumir o Paracetamol enquanto se ingere bebidas alcoólicas, visando ''prevenir uma dor de cabeça'', pois quando se consome bebidas alcoólicas, enquanto fígado metaboliza o álcool, não possui condições de metabolizar simultaneamente o analgésico, aumentando, portanto, o risco de hepatotoxicidade. Alguns médicos orientam a extinção total da prática, tendo em vista a lesão hepática fulminante mesmo em doses menores do que 20 comprimidos que este pode causar. Também não se indica a ingestão de aspirina, porque ela aumenta o sangramento gástrico.
 
            A aspirina é o nome comercial para o fármaco ácido acetilsalicílico, pertencente ao grupo dos anti-inflamatórios não esteróides. É amplamente utilizada com as funções de anti-inflamatório, antipirético (medicamento que previne ou reduz a febre) e analgésico. Ele atua como um inibidor da enzima ciclooxigenase (COX) que possui três isoformas: ciclooxigenase 1 e 2 (mostrada na figura abaixo) e 3. A COX1 é expressa constitutivamente na maioria das células, já a COX2 pensava-se estar presente, de forma significativa, apenas em situações inflamatórias, no entanto, estudos apontam que a COX2 também atua em respostas fisiológicas do organismo nas células endoteliais, ovários, útero, cérebro, medula espinhal, rins e outros órgãos. O ácido acetilsalicílico atua acetilando a enzima, inativando-a, e consequentemente inativando as ações da COX 1 e COX 2; Ele provoca a inibição da síntese de prostaglandinas originadas da COX-2. A isoforma COX-2 constitui a enzima predominante envolvida na produção de prostaglandinas durante o processo inflamatório. As prostaglandinas de séries E e F - série definida de acordo com a estrutura diferente do anel ciclopentano, são ambas primárias, sendo de todo o grupo das prostaglandinas as de maior atividade biológica. As prostaglandinas do grupo E caracterizam-se por apresentar um grupo hidrolixa no carbono 11 e um grupo ceto no carbono 9, já as do grupo F possuem um grupo hidroxila em ambos os carbonos (9 e 11) -  produzem algumas manifestações locais e sistêmicas da inflamação, como vasodilatação, hiperemia, aumento da permeabilidade vascular, edema, dor e migração aumentada de leucócitos. Além disso, intensificam os efeitos dos mediadores da inflamação com histamina, bradicinina e 5-hidroxitriptamina.  Os inibidores seletivos da COX-2 (caso da Aspirina quando ingerida em altas doses), inibem ambas as isoformas da  ciclo-oxigenase, e o grau de inibição da COX-1 varia de um fármaco para outro. Na aspirina, a inibição seletiva da COX-1 manifesta-se já na ingestão de baixas doses do analgésico.
           

        O principal efeito adverso do ácido acetilsalicílico deve-se à inibição da COX-1 no estômago. Os prostanóides são importantes mediadores na proteção da mucosa contra o ácido e enzimas presentes no suco gástrico, aumentando a produção do muco. Logo, a ingestão da aspirina com a finalidade de diminuir a ressaca pode causar irritações estomacais sérias. No entanto, alguns médicos realizaram pesquisas com animais comprovando que no quesito dor de cabeça, a aspirina age com excelência, podendo ser utilizada para a cura desta na ressaca. Porém, é preciso ter parcimônia no otimismo com o estudo, já que ele usou um modelo animal, o que pode apresentar diferenças com relação ao corpo humano.
  Ao final, o único remédio efetivo para  a ressaca é o tempo. Não importa o que um indivíduo faça, o organismo ainda vai ter de inativar e retirar todos os subprodutos tóxicos deixados pela noite anterior. Mas os medicamentos acima podem ajudar a apressar o processo.
   Porém pessoal, se vocês acham que vão esquecer todas essas informações aprendidas hoje no blog, tenham sempre em mãos o quadro abaixo e se lembrem: Moderação é a chave para uma noite divertida sem efeitos colaterais! 


Referências:

O caminho do impulso nervoso


Toda a célula viva e em particular as células nervosas apresentam diferença de potencial elétrico (DDP) entre as faces interna e externa de sua membrana celular. Essa DDP é gerada pela diferença na concentração de íons dentro e fora da célula. Como o citoplasma contém, proporcionalmente menor quantidade de íons positivos que o líquido externo, a superfície interna da membrana é negativa em relação à externa.

Potencial de repouso

Potencial de repouso é a diferença de potencial elétrico que as faces internas e externas na membrana de um neurônio que não está transmitindo impulsos nervosos. O valor do potencial de repouso é da ordem de-70mV (miliVolts). O sinal negativo indica que o interior da célula é negativo em relação ao exterior.

A existência do potencial de repouso deve-se principalmente a diferença de concentração de íons desódio (Na+) e de potássio (K+) dentro e fora da célula. Essa diferença é mantida por meio de um mecanismo de bombeamento ativo de íons pelas membranas celulares, em que o sódio é forçado a sair da célula e o potássio a entrar.

Apesar do nome a manutenção do potencial de repouso demanda gasto de energia pela célula, uma vez que o bombeamento de íons é um processo ativo de transporte que consome ATP.


Despolarização

A membrana celular possui inúmeras estruturas proteicas que funcionam como “portas” de passagem de íons de sódio e potássio. Essas portas ficam normalmente fechadas em um neurônio em repouso, abrindo-se quando ele é estimulado.



Quando um estímulo apropriado atinge o neurônio, as portas de passagem de sódio abrem-se imediatamente na área da membrana que foi estimulada: o íon sódio, por estar em maior concentração no meio celular externo, penetra rapidamente através dessas aberturas na membrana. O brusco influxo de cargas positivas faz com que potencial da membrana, que era da ordem de -70mV (potencial de repouso), passe a aproximadamente +35mV. Essa mudança de potencial denomina-se despolarização.
                                         
                                   


                                       

Potencial de ação

Essa transição abrupta de potencial elétrico que ocorre durante a despolarização, e cuja a amplitude é da ordem de 105 mV (de -70mV a +35 MV), é o potencial de ação.

Na área afetada pelo estímulo, a membrana permanece despolarizada, apenas 1,5 ms (milésimo de segundo). Logo as portas de potássio se abrem, permitindo a saída desse íon, que está em maior concentração no interior da célula. Com isso, ocorre a repolarização da membrana, que retorna a condição de repouso.

Propagação do impulso nervoso

O potencial de ação que se estabelece na área da membrana estimulada perturba a área vizinha, levando à sua despolarização. O estímulo provoca, assim, uma onda de despolarizações e repolarizações que se propaga ao longo da membrana plasmática do neurônio. Essa onda de propagação é o impulso nervoso.
                                                                  

O impulso nervoso se propaga em um único sentido na fibra nervosa. Dendritos sempre conduzem o impulso em direção ao corpo celular. O axônio, por sua vez, conduz o impulso em direção as extremidades, isto é, para longe do corpo celular.


 

Lei do tudo ou nada


A estimulação de um neurônio segue a lei do tudo ou nada. Isso significa que ou o estímulo é suficientemente intenso para excitar o neurônio, desencadeando o potencial de ação, ou nada acontece. Não existe potencial de ação mais forte ou mais fraco; ele é igual independente da intensidade do estímulo. O menor estímulo capaz de gerar potencial de ação é denominado estímulo limiar.

Efeitos da altitude no corpo humano



Os principais males físicos que uma escalada em grandes altitudes pode causar estão relacionadas ao frio, à oxigenação e à diferença de pressão entre o corpo e o ar ambiente.
Frio
As temperaturas extremamente baixas podem levar o corpo humano à hipotermia, a perda de calor corpóreo que determina a queda da temperatura do corpo e compromete o metabolismo. A grosso modo, a hipotermia é deflagrada quando a temperatura corporal vai abaixo dos 35º C. A cada grau centígrado de calor perdido pelo corpo, o fluxo cerebral diminui em 6%, de modo que, aos 32º C, já começam a aparecer sinais de confusão mental e dificuldade de raciocínio.
Aos 30º C, os reflexos mostram-se comprometidos e a pessoa adquire um aspecto sombrio: pupilas fixas e movimentos desordenados. A partir dos 26º C há risco de vida, com ocorrência de arritmias e possibilidade de coma. Se o corpo atingir os 20º C, a morte é praticamente certa. Contudo, esta progressão fatal é perfeitamente controlável e reversível. Ao sentir sintomas da hipotermia, a pessoa deve buscar formas de aquecer seu corpo, seja transferindo-se para locais mais quentes ou cobrindo-se com roupas.
Além disso, o frio extremo costuma causar a necrose de partes do corpo expostas a baixas temperatura por longo período. Neste caso, o mal é irreversível.



Respiração e pressão
O grande problema das grandes escaladas está relacionado à respiração. Trata-se do que os alpinistas chamam de "Mal das Montanhas". Ele pode se manifestar de diferentes formas e em diferentes graus, variando de acordo com as características de cada organismo, mas o fato é que está sempre relacionado à falta de oxigênio.
Na verdade, o ar na montanha não tem menos oxigênio do que o ar ao nível do mar. O problema está na captação deste oxigênio. "Seja a 8000 m ou em Santos, a porcentagem de oxigênio no ar é a mesma, cerca de 30%. Contudo, a pressão parcial do ar atmosférico diminui com a altitude", explica o médico Ricardo Yoshio, do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte (Cemafe) da Unifesp. Para se adaptar a essa baixa pressão atmosférica o corpo de auto-regula, aumentando a freqüência respiratória. Portanto, à medida que se sobe a montanha, a captação de oxigênio para os tecidos torna-se mais difícil, e ocorrem sintomas como dores de cabeça, náuseas, lentidão de raciocínio, dores musculares, fadiga e taquicardia.
Por mera adaptação física, a pressão dos gases dentro do corpo (seja no sangue, entre as articulações ou nos pulmões) aumenta. Desta diferença de pressão decorrem os problemas mais sérios do alpinismo, em geral em altitudes superiores a 4000 m. A alta pressão do ar no corpo pode causar edemas cerebrais, pulmonares ou oculares. Esses problemas se intensificam se a escalada acontecer muito rápido, dificultando a adaptação do corpo à diferença de pressão.
Por esta razão, é fundamental realizar a "aclimatação", ou seja, dar tempo para o corpo se adaptar às diferentes condições do ambiente. Em geral, quando se passa dos 2800 m, este processo de adaptação já se mostra necessário. Após 24 horas em um local mais alto, o corpo começa a sentir o efeito da mudança de altitude. Após 2 semanas neste novo ambiente, o organismo "aclimata-se", controlando os efeitos da transferência. "É por isso que nos jogos de futebol em La Paz, por exemplo, os jogadores chegam horas antes do jogo. Assim, o efeito da altitude só é sentido após a partida", define o professor Luciano Capelli, da Unifesp.


Efeitos da baixa pressão de oxigênio sobre o corpo


A pressão atmosférica diminui em uma unidade a cada 8 metros ascendentes. Isso significa que à medida que uma pessoa submete-se a altitudes progressivamente elevadas a pressão que o ar realiza sobre ela diminui, também progressivamente. Observe o quadro 1 a seguir, verifique que ao nível do mar (altitude correspondente a 0 metro) a pressão atmosférica – também conhecida como pressão barométrica – é de 760 mmHg. Entretanto, uma pessoa que se localiza no topo do Monte Everest, a uma altura de aproximadamente 9000 metros de altitude, está submetida a uma pressão barométrica muito menor, cerca de 220 mmHg. O resultado disso é muito repercutido no organismo humano. Observe ainda que em decorrência do aumento da altitude há uma queda da pressão parcial de oxigênio (PO2), que é a pressão exercida pelo gás oxigênio.Quadro 1; resultado da diminuição da PO2 está diretamente ligado à dificuldade em respirar. Esta situação caracteriza-se pelo estado clínico conhecido como hipóxia. Os efeitos mais importantes da hipóxia começam a ser manifestados em altitudes a partir de 3.660 metros, e incluem sonolência, lassidão (dor muscular e estado de fadiga), fadiga muscular e mental, cefaléia, náusea e euforia. Acima de 5.490 metros as conseqüências da falta de oxigênio passam a ser mais severas, caracterizando estágios de abalos musculares e convulsões. A 7.015 metros de altitude, na pessoa não aclimatada, o estado de coma seguido de morte não é incomum.

O que significa aclimatação?
O termo aclimatação é usado para descrever o processo em que o organismo humano ajusta-se a mudanças físicas em que ele não está acostumado, como alterações na temperatura, na altitude e na pressão atmosférica. Este processo passa a acontecer quando uma pessoa permanece em grandes altitudes por dias, semanas ou anos. À medida que o tempo em que o indivíduo permanece exposto a altitudes elevadas, os efeitos deletérios da baixa PO2 sobre o corpo passam a ser mais tolerados e menos agressivos ao organismo.
O processo de aclimatação envolve basicamente quatro meios: 
(1) Primeiramente ocorre um grande aumento da ventilação pulmonar em decorrência da exposição imediata à pressão parcial de oxigênio baixa. Quando o corpo é submetido a PO2 diminuída há uma estimulação hipóxica dos quimiorreceptores arteriais – estruturas presentes nas bifurcações das artérias responsáveis por transmitir sinais nervosos para o centro respiratório cerebral, fundamentando a regulação da atividade respiratória – resultando num aumento de até cinco vezes o normal da ventilação pulmonar. Esse é um efeito de grande importância, pois permite que a pessoa possa subir vários milhares de metros mais alto do que seria possível na ausência da ventilação aumentada.

(2) Em seguida existe um aumento do número de hemácias resultante da exposição a condições de hipóxia. As hemácias, também chamadas de glóbulos vermelhos, são células presentes no sangue responsáveis pelo transporte de oxigênio e gás carbônico para os tecidos. Esse efeito é lento e gradativo, completando-se apenas após muitos meses na situação de aclimatação.

(3) O aumento da capacidade de difusão é o próximo passo da aclimatação. A difusão do oxigênio é caracterizada pela passagem do gás das pequenas artérias para as membranas dos alvéolos pulmonares. Esse efeito é comum e está presente, por exemplo, durante o exercício físico. Parte desse aumento resulta do volume aumentado de sangue que chega aos pulmões pelos capilares pulmonares, o qual expande os vasos sanguíneos e aumenta a área da superfície na qual o oxigênio difunde-se para o sangue. O propósito do aumento da difusão do oxigênio através da membrana pulmonar é o de garantir um maior suprimento de gás oxigênio ao pulmão em situações em que se tem uma redução da capacidade respiratória e da capacidade de captação de oxigênio.

(4) Por último, mas não menos importante, há um aumento da capacidade das células dos tecidos corporais de utilizar o oxigênio, mesmo com a baixa PO2. Este efeito, de certa forma, procura compensar a redução da pressão de oxigênio presente.

O "mal das montanhas"
Um dos efeitos em longo prazo da exposição a grandes altitudes é uma síndrome conhecida como o “mal das montanhas”. Ela costuma surgir entre 8 a 24 horas após o corpo humano ser levado a altitudes extremas e tem duração de 4 a 8 dias. Os sintomas dessa síndrome são cefaléia, irritabilidade, falta de ar, náuseas, insônia e vômitos. A causa desse quadro não está bem esclarecida, mas acredita-se que seja pelo seguinte processo: em grandes altitudes, a baixa PO2 causa dilatação das pequenas artérias do corpo. Se mecanismos internos de compensação não forem eficazes, a pressão no interior das minúsculas artérias do cérebro aumenta, induzindo um extravasamento de líquido para o tecido cerebral. Esse processo resulta num edema cerebral, responsável pelos sintomas característicos do mal da montanha.

Como os nativos que vivem em grandes altitudes se acostumam à situação?
Existem muitos indivíduos que vivem nos Andes e no Himalaia, situados em altitudes acima de 3.965 metros, por exemplo. Muitos deles nasceram nesses locais e lá vivem por toda sua vida. A aclimatação começa desde a infância nos nativos. Essas pessoas têm o seu tórax aumentado, o tamanho do corpo diminuído e o coração – principalmente o lado direito – muito expandido. Características estas – especialmente o tórax e o coração aumentados – decorrentes principalmente do aumento do trabalho dos músculos envolvidos na respiração e do bombeamento do coração a fim de compensar a rarefação. A disponibilidade do oxigênio pelo sangue aos tecidos é muito facilitada (mecanismo já comentado anteriormente). Essas modificações ao longo da vida dos nativos permitem que eles consigam viver e não apenas sobreviver em lugares altíssimos.

Prevenção
A melhor forma de prevenir as mudanças fisiológicas em grandes altitudes é fazer a ascensão por altitudes gradativamente elevadas de forma lenta e gradual. Isso inclui subidas seguidas por descanso com o objetivo de permitir ao organismo adaptar-se as novas condições físicas. Um exemplo disso são as expedições guiadas ao topo do Monte Everest, que são realizadas seguindo sempre um rígido padrão de segurança. Os escaladores ascendem determinada altura e param em acampamentos para descansar e, posteriormente, seguirem a escalação. São quatro acampamentos até seguirem direto para o topo do monte. Dessa forma os indivíduos evitam que ascensões súbitas provoquem sérios danos ao organismo.

Fontes Bibliográficas
1. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 10a edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 2002. 973 p.
2. GANONG, W. F. Fisiologia Médica. 22a edição. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2006. 778 p.
3. KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Fisiologia. 6a edição. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda., 2009. 844 p.

Links Relacionados
1. Pressão Atmosférica, Wikipédia, a enciclopédia livre.http://pt.wikipedia.org/wiki/Press%C3%A3o_atmosf%C3%A9rica
2. Aclimatação, Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Aclimata%C3%A7%C3%A3o
3. Hemácia, Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hem%C3%A1cia
6. "Como se escala o everest?", Revista Mundo Estranho.http://mundoestranho.abril.com.br/geografia/pergunta_287853.shtml
7. "Efeito das grandes altitudes", Revista Veja.http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/altitudes/index.shtml