terça-feira, 2 de julho de 2013

Efeitos da baixa pressão de oxigênio sobre o corpo


A pressão atmosférica diminui em uma unidade a cada 8 metros ascendentes. Isso significa que à medida que uma pessoa submete-se a altitudes progressivamente elevadas a pressão que o ar realiza sobre ela diminui, também progressivamente. Observe o quadro 1 a seguir, verifique que ao nível do mar (altitude correspondente a 0 metro) a pressão atmosférica – também conhecida como pressão barométrica – é de 760 mmHg. Entretanto, uma pessoa que se localiza no topo do Monte Everest, a uma altura de aproximadamente 9000 metros de altitude, está submetida a uma pressão barométrica muito menor, cerca de 220 mmHg. O resultado disso é muito repercutido no organismo humano. Observe ainda que em decorrência do aumento da altitude há uma queda da pressão parcial de oxigênio (PO2), que é a pressão exercida pelo gás oxigênio.Quadro 1; resultado da diminuição da PO2 está diretamente ligado à dificuldade em respirar. Esta situação caracteriza-se pelo estado clínico conhecido como hipóxia. Os efeitos mais importantes da hipóxia começam a ser manifestados em altitudes a partir de 3.660 metros, e incluem sonolência, lassidão (dor muscular e estado de fadiga), fadiga muscular e mental, cefaléia, náusea e euforia. Acima de 5.490 metros as conseqüências da falta de oxigênio passam a ser mais severas, caracterizando estágios de abalos musculares e convulsões. A 7.015 metros de altitude, na pessoa não aclimatada, o estado de coma seguido de morte não é incomum.

O que significa aclimatação?
O termo aclimatação é usado para descrever o processo em que o organismo humano ajusta-se a mudanças físicas em que ele não está acostumado, como alterações na temperatura, na altitude e na pressão atmosférica. Este processo passa a acontecer quando uma pessoa permanece em grandes altitudes por dias, semanas ou anos. À medida que o tempo em que o indivíduo permanece exposto a altitudes elevadas, os efeitos deletérios da baixa PO2 sobre o corpo passam a ser mais tolerados e menos agressivos ao organismo.
O processo de aclimatação envolve basicamente quatro meios: 
(1) Primeiramente ocorre um grande aumento da ventilação pulmonar em decorrência da exposição imediata à pressão parcial de oxigênio baixa. Quando o corpo é submetido a PO2 diminuída há uma estimulação hipóxica dos quimiorreceptores arteriais – estruturas presentes nas bifurcações das artérias responsáveis por transmitir sinais nervosos para o centro respiratório cerebral, fundamentando a regulação da atividade respiratória – resultando num aumento de até cinco vezes o normal da ventilação pulmonar. Esse é um efeito de grande importância, pois permite que a pessoa possa subir vários milhares de metros mais alto do que seria possível na ausência da ventilação aumentada.

(2) Em seguida existe um aumento do número de hemácias resultante da exposição a condições de hipóxia. As hemácias, também chamadas de glóbulos vermelhos, são células presentes no sangue responsáveis pelo transporte de oxigênio e gás carbônico para os tecidos. Esse efeito é lento e gradativo, completando-se apenas após muitos meses na situação de aclimatação.

(3) O aumento da capacidade de difusão é o próximo passo da aclimatação. A difusão do oxigênio é caracterizada pela passagem do gás das pequenas artérias para as membranas dos alvéolos pulmonares. Esse efeito é comum e está presente, por exemplo, durante o exercício físico. Parte desse aumento resulta do volume aumentado de sangue que chega aos pulmões pelos capilares pulmonares, o qual expande os vasos sanguíneos e aumenta a área da superfície na qual o oxigênio difunde-se para o sangue. O propósito do aumento da difusão do oxigênio através da membrana pulmonar é o de garantir um maior suprimento de gás oxigênio ao pulmão em situações em que se tem uma redução da capacidade respiratória e da capacidade de captação de oxigênio.

(4) Por último, mas não menos importante, há um aumento da capacidade das células dos tecidos corporais de utilizar o oxigênio, mesmo com a baixa PO2. Este efeito, de certa forma, procura compensar a redução da pressão de oxigênio presente.

O "mal das montanhas"
Um dos efeitos em longo prazo da exposição a grandes altitudes é uma síndrome conhecida como o “mal das montanhas”. Ela costuma surgir entre 8 a 24 horas após o corpo humano ser levado a altitudes extremas e tem duração de 4 a 8 dias. Os sintomas dessa síndrome são cefaléia, irritabilidade, falta de ar, náuseas, insônia e vômitos. A causa desse quadro não está bem esclarecida, mas acredita-se que seja pelo seguinte processo: em grandes altitudes, a baixa PO2 causa dilatação das pequenas artérias do corpo. Se mecanismos internos de compensação não forem eficazes, a pressão no interior das minúsculas artérias do cérebro aumenta, induzindo um extravasamento de líquido para o tecido cerebral. Esse processo resulta num edema cerebral, responsável pelos sintomas característicos do mal da montanha.

Como os nativos que vivem em grandes altitudes se acostumam à situação?
Existem muitos indivíduos que vivem nos Andes e no Himalaia, situados em altitudes acima de 3.965 metros, por exemplo. Muitos deles nasceram nesses locais e lá vivem por toda sua vida. A aclimatação começa desde a infância nos nativos. Essas pessoas têm o seu tórax aumentado, o tamanho do corpo diminuído e o coração – principalmente o lado direito – muito expandido. Características estas – especialmente o tórax e o coração aumentados – decorrentes principalmente do aumento do trabalho dos músculos envolvidos na respiração e do bombeamento do coração a fim de compensar a rarefação. A disponibilidade do oxigênio pelo sangue aos tecidos é muito facilitada (mecanismo já comentado anteriormente). Essas modificações ao longo da vida dos nativos permitem que eles consigam viver e não apenas sobreviver em lugares altíssimos.

Prevenção
A melhor forma de prevenir as mudanças fisiológicas em grandes altitudes é fazer a ascensão por altitudes gradativamente elevadas de forma lenta e gradual. Isso inclui subidas seguidas por descanso com o objetivo de permitir ao organismo adaptar-se as novas condições físicas. Um exemplo disso são as expedições guiadas ao topo do Monte Everest, que são realizadas seguindo sempre um rígido padrão de segurança. Os escaladores ascendem determinada altura e param em acampamentos para descansar e, posteriormente, seguirem a escalação. São quatro acampamentos até seguirem direto para o topo do monte. Dessa forma os indivíduos evitam que ascensões súbitas provoquem sérios danos ao organismo.

Fontes Bibliográficas
1. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 10a edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 2002. 973 p.
2. GANONG, W. F. Fisiologia Médica. 22a edição. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2006. 778 p.
3. KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Fisiologia. 6a edição. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda., 2009. 844 p.

Links Relacionados
1. Pressão Atmosférica, Wikipédia, a enciclopédia livre.http://pt.wikipedia.org/wiki/Press%C3%A3o_atmosf%C3%A9rica
2. Aclimatação, Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Aclimata%C3%A7%C3%A3o
3. Hemácia, Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hem%C3%A1cia
6. "Como se escala o everest?", Revista Mundo Estranho.http://mundoestranho.abril.com.br/geografia/pergunta_287853.shtml
7. "Efeito das grandes altitudes", Revista Veja.http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/altitudes/index.shtml

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